(098) – OS DOIS CONCERTOS

        Na Bíblia encontramos dois concertos ou alianças entre Deus e os homens. No Velho Testamento, o concerto foi estabelecido por Jeová com Israel tendo como mediador Moisés. “Moisés tomou o livro do concerto, e o leu aos ouvidos do povo, e eles disseram: Tudo o que Jeová tem falado faremos, e obedeceremos. Então tomou Moisés aquele sangue, e espargiu-o sobre o povo, e disse: Eis aqui o sangue do concerto que Jeová tem feito convosco sobre todas estas palavras” (Ex.24:7-8). Este concerto de Jeová com Israel tinha como prêmio a terra de Canaã. “E também estabeleci o meu concerto com eles, para dar-lhes a terra de Canaã, a terra de suas peregrinações” (Ex.6:4). Os desobedientes foram privados de entrar em Canaã, e morreram no deserto (Nm.14:29-35). Jeová promete fazer um Novo Concerto por boca de Jeremias, o profeta. “Mas este é o concerto que farei com a casa de Israel depois daqueles dias, diz Jeová: Porei a minha lei no seu interior, e a escreverei no seu coração; e eu serei o seu deus, e eles serão o meu povo” (Jr.31:33). No verso 31 Jeová diz: “Eis que dias veem, diz Jeová, em que farei um concerto novo com a casa de Israel e com a casa de Judá” (Jr.31:31). Que concerto novo era este? Era a remoção dos cativeiros, e isto dito pelo próprio Jeová: “Eis que os trarei da terra do norte, e os congregarei das extremidades da terra; e com eles os cegos e aleijados, as mulheres grávidas e as de parto juntamente; em grande congregação virão para aqui. Virão com choro, e com súplicas os levarei; guia-los-ei aos ribeiros de águas, por caminho direito em que não tropeçarão; porque sou um pai para Israel e Efraim e o meu primogênito. Ouvi a palavra de Jeová, ó nações, e anunciai-as nas ilhas de longe, e dizei: Aquele que espalhou Israel o congregará e o guardará, como o pastos ao seu rebanho, porque Jeová resgatou a Jacó…” (Jr.31:8-11). Fica então bem claro, que o retorno de Israel à Palestina era o cumprimento deste segundo concerto. Israel voltou e se constituiu em nação no ano de 1948, logo, o segundo concerto se realizou sem reconstrução do templo, sem sacerdotes e sacrifícios como foi prometido em Ez.40 a 44.

No livro aos Hebreus, capítulo 8, o autor do livro faz referências a estes dois concertos de Jeová com o seu povo, isto é, Israel (Hb.8:8-10). Muitos cristãos confundem este segundo concerto de Jeová com o concerto de Jesus Cristo. O de Jeová era o retorno a Canaã, portanto é um concerto terreno. O concerto de Jesus Cristo não é terreno. O concerto de Jeová, por ser terreno, se baseava em coisas materiais e temporais, ao passo que o concerto de Jesus Cristo é puramente espiritual e eterno. Comparando as bases destes dois concertos, poderemos perceber que os de Jeová nada têm a ver com o de Jesus.

1-   O concerto de Jeová incluía a lei, cuja obediência credenciava para herdar a terra da promessa por longos anos de vida, ao passo que no concerto de Cristo não entra a lei de Jeová. Ouçamos as palavras do apóstolo Paulo: “Mas agora estamos livres da lei, pois morremos para aquilo em que estamos retidos; para que sirvamos em novidade de espírito e não na velhice da letra” (Rm.7:6). Na carta aos Hebreus lemos que a lei de Jeová foi fraca e inútil, e que nada aperfeiçoa (Hb.7:18-22).

2-   O concerto de Jeová foi feito com os homens. Obedecendo e cumprindo a lei, o homem garantia a vida e a herança (Lv.18:5; 26:24-25). Jeová afirma que não há homem justo sobre a terra, que faça o bem e nunca peque (Ec.7:20; 1 Rs.8:46). “A alma que pecar essa morrerá” (Ez.18:4, 24-26). Se não há homem justo que nunca peque, Jeová não poderia fazer concerto ou pacto com o homem. Isso seria condená-lo ao inferno fatalmente. Isso seria predestinar o homem à condenação e à morte inexoravelmente, pois não há homem que não peque, e só não pecando o homem garante a vida na carne e a herança terrena.

O concerto do Pai não é feito com o homem, mas com Jesus. A garantia do cristão não está na própria perfeição, mas na perfeição de Cristo, isto é, Cristo faz tudo por nós e nós apenas cremos e confiamos. Explicando melhor: Eu não me santifico para poder me salvar, mas sou salvo para poder me santificar (2 Ts.2:13). O cristão não faz as obras boas de Deus para obter a graça, mas o cristão recebe a graça de Deus para depois fazer as obras boas de Deus (Ef.2:8-10). Cristo é o fiador do concerto do Pai; se o cristão não pode pagar, Jesus paga (Hb.7:22).

3-   No concerto de Jeová, como dissemos, é impossível ao homem não pecar, logo, é impossível a salvação (Ec.7:20; 1 Rs.8:46; Ez.18:4).  No concerto do Pai, com Jesus, o cristão pode não pecar. “Qualquer que é nascido de Deus não comete pecado; porque a sua semente permanece nele; e não pode pecar porque é nascido de Deus” (1 Jo.3:9). “Sabemos que todo aquele que é nascido de Deus não peca, mas o que de Deus é gerado conserva-se a si mesmo, e o maligno não lhe toca” (1 Jo.5:18). E o apóstolo João vai mais longe: “E bem sabeis que ele se manifestou para tirar os nossos pecados; e nele não há pecado. Qualquer que permanece nele não peca; qualquer que peca não o viu nem o conheceu” (1 Jo.3:5,6). João afirma que quem comete pecado não o viu nem o conheceu? Sim, pois quem comete pecado é do diabo (1 Jo.3:8).  Se quem comete pecado é do diabo, e no Velho Testamento lemos que não há homem que não peque, todos eram do diabo.

4-   O concerto de Jeová foi o concerto da morte e da condenação, mas o concerto de Cristo é o da vida e: “Não que sejamos capazes, por nós, de pensar alguma coisa, como de nós mesmos; mas a nossa capacidade vem de Deus, o qual nos fez também capazes de ser ministros dum novo testamento, não da letra, mas do espírito, porque a letra mata, e o espírito vivifica” (2 Co.3:5-6). Neste concerto de Jeová o homem tem vida, e o concerto lhe garante a morte, pois não há homem que não peque. No concerto de Cristo, o homem tem a morte, mas passa para a vida. Ouçamos as palavras de Jesus: “Em verdade, em verdade vos digo que quem ouve a minha palavra, e crê naquele que me enviou, tem a vida eterna, e não entrará em condenação, mas passou da morte para a vida” (Jo.5:24).

 

Autoria: Pastor Olavo Silveira Pereira

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