(280) – MANANCIAL – II

280 – MANANCIAL 2

 

Palavras de São Tiago: “Porventura deita alguma fonte de um mesmo manancial água doce e água amargosa?” (Tg. 3:11). Existe fonte de água doce, isto é, potável; e fonte de água amargosa, isto é, não potável, pois faz mal, e até mata. O Espírito de Jeová dava sabedoria, mas sabedoria mundana, pois Jeová comparou com a sabedoria dos homens. O texto diz: “E disse-lhe Deus: Portanto pediste esta coisa, e não pediste para ti riquezas, nem pediste a vida dos teus inimigos, mas pediste para ti entendimento para ouvir causas de juízo, eis que fiz segundo as tuas palavras. Eis que te dei um coração tão sábio e entendido, que antes de ti teu igual não houve, e depois de ti teu igual não se levantará” (I Rs. 3:11-12). Foi, portanto, sabedoria deste mundo, por isso foi maior dos que viveram antes dele. E com toda a sabedoria recebida de Jeová, Salomão não falou do reino celestial, pois só julgava as coisas deste mundo (I Rs. 3:11; 3:16-28). No Novo Testamento, o Espírito dá sabedoria aos cristãos para discernirem as coisas do reino celestial de Deus. Paulo disse: “A minha palavra, e a minha pregação, não consistiu em palavras persuasivas de sabedoria humana, mas em demonstração de espírito e poder, para que a vossa fé não se apoiasse em sabedoria de homens, mas no poder de Deus. Todavia falamos sabedoria entre os perfeitos; não porém a sabedoria deste mundo, nem dos príncipes deste mundo, que se aniquilam, mas falamos a sabedoria de Deus; oculta em mistério, a qual Deus ordenou antes dos tempos dos séculos para a nossa glória” (I Co.   2:4-7). Ora, Salomão, com toda a sabedoria que Jeová lhe deu, se aniquilou a si mesmo. “O rei Salomão amou muitas mulheres estranhas, e isso além da filha de Faraó; moabitas, amonitas, edonitas, sidônias e hetéias, das nações de que Jeová tinha dito aos filhos de Israel: Não entrareis a elas, e elas não entrarão a vós, doutra maneira perverterão os vossos corações para seguirdes os seus deuses. A estas se uniu Salomão com amor” (I Rs. 11:1-2). Salomão não teve sabedoria para obedecer aos mandamentos de Jeová. Jeová mesmo enumera três homens que nunca se desviaram do bem e da justiça: Noé, Daniel e Jó (Ez. 14:14; Hb. 11:7; Dn. 1:8). Ora, José foi bom, puro e justo desde menino, e não se deixou seduzir pela mulher de Potifar; logo teve mais sabedoria que Salomão em relação a carne e a libido. Só um homem falto de entendimento poderia ser tão lascivo a ponto de ter setecentas mulheres e trezentas concubinas (I Rs. 11:3). As trezentas concubinas não eram esposas, mas só para sexo. Salomão realmente foi voluptuoso, lúbrico e luxurioso. Se as concubinas não eram esposas, Salomão era fornicário, pois fornicação é sexo fora do casamento. A sabedoria recebida por Salomão foi animal e terrena. Mas tem mais. Com a sabedoria dada por Jeová, Salomão impôs um jugo tão pesado sobre o povo, que depois da sua morte, seu filho Roboão sentou no trono, e o povo falou ao rei, dizendo: “Teu pai agravou o nosso jugo; agora, pois, alivia tu a dura servidão de teu pai, e o seu pesado jugo que nos impôs, e nós te serviremos” (I Rs. 12:4). Agora não se trata de lubricidades, lascívia, e fornicação, mas do governo despótico de Salomão oprimindo e saqueando o povo. Como Jeová não chamou a atenção de Salomão pela tirania governamental, é óbvio que aprovava as injustiças praticadas (I Rs. 12:11). Mas tem mais ainda. Salomão, com toda sabedoria dada por Jeová, foi o maior idólatra de Israel, pois adotou os deuses das suas esposas estranhas. “Porque sucedeu que, no tempo da velhice de Salomão, suas mulheres lhe perverteram o coração para seguir outros deuses; e o seu coração não era perfeito para com Jeová seu Deus, como o coração de Davi, seu pai: Porque Salomão andou em seguimento de Astarote, deusa dos sidônios, e em seguimento de Milcom, a abominação dos amonitas. Assim fez Salomão o que parecia mal aos olhos de Jeová, e não perseverou em seguir Jeová, como Davi, seu pai. Então edificou Salomão um alto a Quemós, a abominação dos filhos de Amom” (I Rs. 11:4-7). Moloque era cultuado e adorado com sacrifício de crianças. O rei Acaz queimou seus próprios filhos ao deus Moloque, construído com a imensa sabedoria por Salomão (II Cr. 28:3). O rei Manassés também ofereceu seu filho para ser queimado em sacrifício a Moloque (II Rs. 21:6). As dez tribos que separaram de Judá e Levi, chefiados por Jeroboão, filho de Nebote, quando, para castigar Salomão, Jeová dividira o reino de Israel em dois: O reino do Sul e o do Norte, essas dez tribos cultuavam Moloque, e queimavam os filhos em sacrifício (II Rs. 17:17). Salomão caprichou usando a grande sabedoria recebida de Jeová; e usou-a muito bem para destruir os dois reinos divididos.

Para concluir esta analise dos atos de Salomão, afirmamos com convicção que a sabedoria dada a Salomão foi terrena, carnal e inteiramente humana. Mas, como vimos no princípio deste escrito, Paulo declarou que a sabedoria de Deus dada pelo Espírito Santo, não trata das coisas deste mundo, mas das coisas eternas do reino de Deus. Leiamos: “Mas, como está escrito: As coisas que o olho não viu, e o ouvido não ouviu, e não subiram ao coração do homem, são as que Deus preparou para os que o amam. Mas Deus no-las revelou pelo seu Espírito; porque o Espírito penetra todas as coisas, ainda as profundezas de Deus. Porque, qual dos homens sabe as coisas do homem, senão o espírito do homem que nele está? Assim também ninguém sabe as coisas de Deus, senão o Espírito de Deus. Mas nós não recebemos o espírito do mundo, mas o Espírito que provém de Deus, para que pudéssemos conhecer o que nos é dado gratuitamente por Deus” (I Co. 2:9-12). O que nos deu Deus gratuitamente? “Bendito seja o Deus e Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo, o qual nos abençoou com todas as bênçãos espirituais nos lugares celestiais em Cristo” (Ef. 1:3). É para estas coisas que o cristão recebe sabedoria do Deus Pai. “Para que o Deus de Nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai da Glória, vos dê em seu conhecimento o espírito de sabedoria e revelação” (Ef. 1:17). Mas revelação do que? Pedro responde: “Bendito seja o Deus e Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo, que, seguindo a sua grande misericórdia, nos gerou de novo para uma viva esperança, pela ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos, para uma herança incorruptível, incontaminável, e que se não pode murchar, guardada nos céus para vós” (I Pd. 1:3-4).

O reino celestial de Deus, o Pai, nada tem a ver com o reino de Jeová, estabelecido em Israel, e nunca foi mencionado pelos profetas do Velho Testamento. Jesus disse: “A lei e os profetas duraram até João; desde então é anunciado o reino de Deus” (Lc. 16:16). E outra vez: “Arrependei-vos, porque é chegado o reino dos céus” (Mt. 4:17).

São duas fontes, dois mananciais, dois reinos, duas heranças. O primeiro cheio de fel, de pragas, maldições, guerras, vinganças, sabedoria humana e diabólica, idolatria, sacrifício de crianças. Esta fonte é de água amarga como o fel. A segunda fonte, de manancial bendito, é cheia de perdão, misericórdia, curas, ressurreição, graça, novo nascimento, comunhão plena, bênçãos celestiais, etc. Paulo disse:“Porque o reino de Deus não é comida nem bebida, mas justiça e paz, e alegria no Espírito Santo” (Rm. 14:17).

Como de uma mesma fonte, e de um mesmo manancial não pode sair água doce e água amargosa, aquela sabedoria dada a Salomão, que trouxe tantas desgraças ao povo de Israel, não é água doce, mas água de fel, vinda de um manancial cheio de ira e ódio destruidor.

Jesus declarou: “Quem crê em mim, como diz o Espírito, rios d’água viva correrão do seu ventre”. Este é o nosso manancial cristalino e cheio de amor.

 

Pastor: Olavo Silveira Pereira

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