(284) – MANANCIAL – VI

MANANCIAL 6

            Amor é uma palavra derivada do grego “caritas”. Os gregos viram no amor uma força unitiva e harmonizadora, e entenderam-na sobre o fundamento do amor sexual, da concórdia política e da amizade. Hesiodo e Parmênides foram os primeiros a sugerir que o amor é a força que move as coisas, as mantém e conduz juntas. Empédocles reconheceu no amor a força que mantém unidas todas as coisas, e na discórdia a força que os separa. Platão nos deu o primeiro tratado sobre o amor, no qual focaliza que o amor é o desejo de adquirir e de conquistar o que não se possui. Em segundo lugar, o amor se dirige para a beleza, que é o desejo do bem; e em terceiro lugar, o amor é o desejo de vencer a morte, e é, portanto, a via pela qual o ser mortal procura salvar-se da mortalidade, deixando após si, em troca do que envelhece e morre, algo novo que se lhe assemelha, isto é, o filho. Em quarto lugar Platão distingue tantas formas de amor quantas são as formas do belo, começando pela beleza sensível e acabando pela beleza da sabedoria. Aristóteles detêm-se na consideração positiva do amor. Para ele, o amor e o ódio, como todas as outras afeições da alma, pertencem, não só a alma como tal mas ao homem enquanto é composto de alma e corpo, e portanto enfraquecendo-se com o enfraquecimento da união de alma e corpo. Afirma também que o amor que está ligado ao prazer pode começar e acabar rapidamente. Aristóteles declarou que Deus, como primeiro motor, move as outras coisas “como objeto de amor”, isto é, como termo do desejo que as coisas tem de alcançar a perfeição. Estes filósofos todos viveram antes de Cristo. Vamos citar alguns que viveram depois de Cristo. Descartes, filósofo francês do século XVI, disse que o amor é uma afeição e depende do corpo, difere do juízo que também induz a alma, de sua livre vontade, a unir-se às coisas que julga boas. O amor distingue-se do desejo, que é dirigido para o futuro. Descartes rejeita a distinção medieval entre amor de concupiscência e amor de benevolência, no qual o amor de concupiscência busca o bem próprio, e o amor de benevolência busca o bem do próximo. Para ele, essa distinção concerne aos efeitos e não à essência do amor. Leibiniz, que veio logo depois, exprimiu de forma clara, que, quando se ama sinceramente uma pessoa, não se procura o próprio proveito nem um prazer desligado do amor da pessoa amada, mas se procura o próprio prazer na satisfação e na felicidade dessa pessoa. Segundo Leibiniz, o amor tira o contraste entre duas verdades.

Existiram muitos outros pensadores e filósofos, tanto antigos como modernos, que se ocuparam e escreveram sobre o amor. Todos esses pensadores formaram um rico manancial para a humanidade. Os intelectuais psíquicos encontraram nesse enorme manancial uma fonte de conhecimento sobre a beleza do amor, o poder do amor, a virtude do amor, e a multiforme graça do amor.

Vamos falar agora de um outro manancial cuja fonte não nasceu no coração nem na mente do homem, mas no coração de Deus, o Pai, e nos foi manifestado por Jesus Cristo, seu Filho, na pessoa do Espírito Santo. Esse amor, descido do coração de Deus pelo Espírito Santo, torna o homem perfeito, e Paulo, que recebeu esse amor ao crer em Jesus, declarou: “Revesti-vos pois, como eleitos de Deus, santos, e amados, de entranhas de misericórdia, de benignidade, humildade, mansidão, longanimidade; suportando-vos uns aos outros, e perdoando-vos uns aos outros, se algum tiver queixa contra outro; assim como Cristo vos perdoou, assim fazei vós também. E, sobre tudo isto, revesti-vos de caridade, que é o vínculo da perfeição” (Cl. 3:12-14). Fantástico. O amor de Deus, comunicado ao homem pelo Espírito Santo, torna o homem humilde, manso, longânimo, e com entranhas de misericórdia, isto é, seja qual for a ofensa, ou o insulto, o que é ofendido perdoa com entranhas de misericórdia, com humildade e mansidão. É o amor que faz suportar as cargas mais pesadas, isto é, a cruz mais pesada e dolorosa, que nos torna iguais a Cristo. Jesus amou tanto os homens que deu a sua vida pregado numa cruz. Ele mesmo disse: “Ninguém tem maior amor que este: de dar alguém a sua vida pelos seus amigos” (Jo. 15:13). E disse mais: “Por isso o Pai me ama, porque dou a minha vida para tornar a tomá-la. Ninguém ma tira de mim, mas eu de  mim mesmo a dou; tenho poder para a dar, e poder para tornar a tomá-la” (Jo. 10:17-18). Jesus não deu a sua vida porque o Pai ordenou, mas sim porque amou os perdidos, os ladrões, os infiéis, os homicidas e adúlteros, os mentirosos, as prostitutas, enfim todos. Ele mesmo disse: “Porque o Filho do homem veio salvar o que se tinha perdido” (Mt. 18:11). Esse tipo de amor, os filósofos e poetas nunca imaginaram, porque nunca subiu ao coração dos homens. O amor que os filósofos ensinaram é muito bonito, e é recheado me máximas de extrema beleza; mas não exclui a lei. Quando o criminoso fere a lei dos homens é encarcerado ou morto, mas o amor revelado em Jesus Cristo é tão poderoso que anula a lei de deus. Paulo declarou pelo Espírito Santo: “A ninguém devais coisa alguma, a não ser o amor com que vos ameis uns aos outros: porque quem ama aos outros cumpriu a lei. Com efeito: Não adulterarás, não furtarás, não darás falso testemunho, não cobiçarás, e se há algum outro mandamento, tudo nesta palavra se resume: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. O amor não faz mal ao próximo. De sorte que o cumprimento da lei é o amor” (Rm. 13:8-10). É maravilhoso! O amor derramado do céu no coração do cristão é mais poderoso que a lei, e tira a força e o poder da lei. O amor revoga a lei. Mas não pode ser o amor nascido no coração e na mente do homem, nem dos pensadores, pois, como dissemos, este amor está abaixo da lei e não a suprime. Jesus disse, falando do amor celestial: “Ouviste o que foi dito: Amarás ao teu próximo, e aborrecerás o teu inimigo. Eu, porém, vos digo: Amai a vossos inimigos, bendizei os que vos maldizem, fazei bem aos que vos odeiam, e orai pelos que vos maltratam e vos perseguem; para que sejais filhos do vosso Pai que está nos céus; porque faz que o seu sol se levante sobre maus e bons, e a chuva desça sobre justos e injustos. Pois, se amardes aos que vos amam, que galardão havereis? Não fazem os publicanos também o mesmo? E, se saudardes unicamente os vossos irmãos, que fazeis de mais? Não fazem os publicanos também assim? Sede vós pois perfeitos, como é perfeito o vosso Pai que está nos céus” (Mt. 5:43-48). Este é o manancial de Jesus Cristo, que torna o cristão perfeito como Deus é perfeito, e por isso revoga a lei. E, se torna o homem perfeito, esse homem é também igual a Cristo em perfeição.“Até que todos cheguemos à unidade da fé, e ao conhecimento do Filho de Deus, a varão perfeito, à medida da estatura completa de Cristo” (Ef. 4:13). E tem mais: Esse amor celestial, infundido no homem pelo Espírito Santo, traz ao homem a vida eterna, por isso João declara: “Nós sabemos que passamos da morte para a vida, porque amamos os irmãos. Quem não ama a seu irmão permanece na morte” (I Jo. 3:14).

Autoria: Pastor Olavo Silveira Pereira

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