(270) – O INTERESSE

O INTERESSE

 

 

Epicteto, filósofo estóico, natural da Frígia, foi escravo em Roma no tempo do imperador Nero. Perguntaram-lhe:

— Que é que governa o mundo?

— O interesse — respondeu ele.

— Mas que é interesse?

— Proveito, lucro, vantagem que alguém encontra em alguma coisa. Onde há interesse não há amor, pois o interesse só busca o bem do sujeito, e o amor só busca o bem do objeto.

Paulo nos dá a seguinte regra do amor: “Ninguém busque o proveito próprio, antes cada um o que é de outrem” (I Co. 13:5).

Jeová tinha interesse na edificação de um templo, para ali ser adorado e servido. Então escolheu cuidadosamente o lugar. “Haverá um lugar que escolherá Jeová vosso deus para ali fazer habitar o seu nome; ali trareis tudo que vos ordeno; os vasos, holocaustos, e os vossos sacrifícios, e os vossos dízimos, e a oferta alçada da vossa mão” (Dt. 12:11-13). Jeová proibiu oferecer holocaustos em qualquer lugar (Dt. 12:13-14). Jeová tinha planos para edificação de um suntuoso templo para sua habitação. Davi, servo fiel e dedicado de Jeová decidiu edificar o templo, isto é, a casa de Jeová, dizendo: “Eu moro em casa de cedros, e a arca de Jeová mora dentro de cortinas” (II Sm. 7:2). Nesse propósito, Davi fez o seguinte voto:“Certamente que não entrarei na tenda em que habito, nem subirei no leito em que durmo; não darei sono aos meus olhos, nem repouso às minhas pálpebras, enquanto não achar lugar para Jeová, uma morada para o poderoso de Jacó” (Sl. 132:2-5). Jeová, então responde a Davi dizendo: “Tu derramaste sangue em abundância, e fizeste grandes guerras; não edificarás casa ao meu nome, porquanto muito sangue tens derramado na terra perante a minha face” (I Cr. 22:8). Davi fez voto de não se deitar com mulher até construir o templo de Jeová para se redimir do adultério cometido, e Jeová lhe proíbe de construí-lo? Qual a alegação de Jeová? As guerras de Davi. Qual o drama de Davi? Ser obrigado a se tornar eunuco por causa do voto. Jeová buscou o próprio interesse com prejuízo de Davi. O voto que Davi fez se tornou um laço, a não ser que, por ser desobrigado de construir o templo, ficou desobrigado do voto. Mas Jeová não aceita desistência de voto (Ec. 5:4-6). Se Davi quebrasse o voto, a maldição de Jeová viria até a terceira ou quarta geração (Ec. 20:4-5). Na velhice, Davi sentia muito frio. Seus servos buscaram a mulher mais bela do reino de Israel, e puseram-na colada ao corpo de Davi para aquecê-lo, porém Davi não a conheceu (I Rs.1:1-4). Foi um laço, armado para derrubar Davi.

Temos outro caso nas páginas luminosas do Velho Testamento. Ao entrar na terra prometida, depois de passar o rio Jordão, a primeira cidade que Israel destruiu foi Jericó. Jeová deu as seguintes ordens ao povo: “Vocês vão rodear a cidade sete dias. Sete sacerdotes irão diante da arca de Jeová com sete buzinas de carneiros. No último dia rodearão a cidade sete vezes, e a um sinal tocarão as trombetas, o povo gritará bem alto, e Jeová dará vitória. Nada tomarão da cidade, pois é anátema a Jeová. O ouro, a prata, e os objetos de metal serão consagrados a Jeová” (Js. 6:16-21). Jeová tinha interesse no ouro e na prata, e desprezava as almas, pois todos foram mortos à espada, desde o homem até a mulher, desde o menino até o velho. No Novo Testamento, Jesus desprezava o ouro e a prata, e salvava os homens, mulheres e crianças, porque Jesus não busca os seus interesses pessoais como Jeová, mas buscava o bem dos pobres, dos doentes, aleijados e perdidos.

Há outros episódios da história de Israel, que revelam que Jeová tinha interesse particular ao formar o reino de Israel. No livro de Isaías, lemos a palavra de Jeová: “A todos os que são chamados pelo meu nome, e os que criei para a minha glória; eu os formei, sim, eu os fiz” (Is. 43:7). Quando Jeová apareceu a Moisés na sarça, e o enviou para libertar o seu povo da servidão do Egito, disse: “Tenho visto atentamente a aflição do meu povo que está no Egito, e tenho ouvido o seu clamor por causa dos seus exatores, porque conheci as suas dores. Portanto desci para livrá-lo da mão dos egípcios, e para fazê-lo subir daquela terra, a uma terra boa e larga, a uma terra que mana leite e mel” (Ex. 3:7-8). A leitura deste trecho nos dá a impressão que Jeová buscava o bem e o interesse daquele povo, mas não é verdade. O interesse de Jeová era formar um povo para ser glorificado aos olhos dos outros povos. Como o povo perseverou nos costumes perversos do Egito, e não observou a lei de Jeová, este se encheu de furor por não ver seus interesses realizados, e destruiu o reino de Israel. A destruição do reino, tanto de Israel como de Judá prova que Jeová só buscava seu próprio interesse. Ele mesmo declara dizendo:“Não é por vosso respeito que eu faço isto, ó casa de Israel, mas por amor do meu santo nome, que profanaste entre as nações para onde vós fostes” (Ez. 36:22).

Analisemos mais um ponto obscuro. Ao tirar o povo do Egito, Jeová declarou que foi por ver a aflição do povo e ouvir o seu clamor (Ex. 3:7). Saídos do Egito, passaram o mar vermelho pelo poder de Jeová. Então foram levados ao Monte Sinai, e Jeová propôs um pacto com o povo. Era o pacto da lei, que o povo estava obrigado a guardar. Antes de ditar suas leis, Jeová disse: “Vós me sereis um reino” (Ex. 19:6). Jeová estava interessado em ser rei neste mundo e libertou o povo para se fazer simpático, e depois reinar sobre Israel. Não estava interessado no bem do povo que libertou, mas sim no reino que ia formar, e através do reino de Israel reinar sobre todos os povos da terra. O salmista declara: “Jeová reina sobre as nações; deus se assenta sobre o trono da sua santidade” (Sl. 47:8). Acontece que, a intolerância de Jeová, suas pragas, suas vinganças, e suas matanças, endureceram o coração do povo a tal ponto que pediram ao profeta Samuel um rei humano (I Sm. 8:4-5). Jeová então falou a Samuel  dizendo: “Eles me rejeitam, para eu não reinar sobre eles” (I Sm.8:6-7). O plano e os interesses de Jeová caíam por terra; então anunciou que o rei que eles pediram seria mau (I Sm. 8:9-18). Jeová declara que o rei seria tão mau, que o povo desesperado, iria orar e clamar, mas Jeová não os ouviria (I Sm. 8:18). Isto é vingança desse deus malvado, que só pensa nos seus interesses. Na realidade, levantando reis perversos, Jeová continuava reinando por trás deles. Isso é engano e tirania. E Ezequiel falou da parte de Jeová: “Vivo eu, diz o senhor Jeová, que com mão forte, e com braço estendido, e com indignação derramada, hei de reinar sobre vós” (Ez. 20:73). Não conseguindo reinar sobre o seu povo, a quem criou, por ser o deus do mal, Jeová destruiu os dois reinos (II Rs.17:20-23; II Rs. 23:27; 24:1-3). Acabou o reino, acabou também o rei.

Jesus declarou bem alto: “O MEU REINO NÃO É DESTE MUNDO” (Jo. 18:36). O apóstolo Paulo também declarou: “O Senhor Jesus me livrará de toda a má obra, e guardar-me-á para o seu reino celestial” (II Tm. 4:18). Pedro afirmou a mesma declaração, dizendo: “Bendito seja o Deus e Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo, que segundo a sua grande misericórdia, nos gerou de novo para uma viva esperança, pela ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos, para uma herança incorruptível, incontaminável, e que se não pode murchar, guardada nos céus para vós” (I Pd. 1:3-4). O interesse de Jesus está em salvar os homens deste mundo de Jeová (Sl. 24:1) e levá-los para o reino de Deus que não é aqui, enquanto que o interesse de Jeová é estabelecer o seu reino na terra num regime de força com vara de ferro. Zacarias diz: “E Jeová será rei sobre toda a terra” (Zc. 14:9). As nações que não se submeterem estarão debaixo da maldição de Jeová. (Zc. 14:12-18). Os três textos do apocalipse que afirmam que Jesus vai reger com vara de ferro, como Jeová predisse no Salmo 2:8-9, não fazem parte do texto original em grego, e foram enxertados indevidamente pelos adoradores de Jeová; num esforço de realizar seus interesses. (Ap. 2:27; 12:5; 19:15).

 

Pastor: Olavo Silveira Pereira

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