(112) – OS PRIMOGÊNITOS

No Velho Testamento, os primogênitos foram todos marcados pela desgraça, pelas maldições e pela morte. Caim, o primogênito de Adão, trouxe uma oferta a Jeová, e esta foi rejeitada. Caim irou-se, pois a oferta de Abel, seu irmão foi aceita, e, quando estavam no campo, Caim matou a seu irmão, e se tornou maldito de Jeová, e um vagabundo errante (Gn. 4:1-5; 4:8-14).

O primogênito de Abraão foi Ismael, filho de Hagar, a egípcia, e nasceu catorze anos antes de Isaque. Como Sarai era estéril, deu a Abraão sua serva egípcia, dizendo: “Terei filhos dela” (Gn. 16:2). Hagar concebeu, e Sarai, com ciúmes, a despediu. O anjo de Jeová a achou no deserto, determinou que o nome da criança fosse Ismael, que traduzido é: “Quem Deus ouve” e ordenou que ela voltasse para casa. Hagar obedeceu, e ficou submetida à antipatia de Sarai por catorze anos (Gn. 16:5-11).

O anjo de Jeová revelou a Hagar que Ismael, isto é, os árabes, seriam adversários dos judeus, isto é, Isaque (Gn. 16:12). Passados os catorze anos, quando nasceu Isaque, Sara, (pois este é o novo nome de Sarai, Gên.17:15), exigiu que Hagar, a egípcia, e seu filho Ismael, fossem banidos do lar. Abraão não gostou e foi consultar a Jeová, que lhe disse: “Ouça a tua mulher em tudo que te diz” (Gn. 21:1-12). Ismael não herdou a bênção de Abraão, e está fora da promessa. Primogênito destituído.

O terceiro primogênito foi Esaú, filho de Isaque, que foi rejeitado desde o ventre, pois era gêmeo de Jacó, mas nasceu primeiro. “Não tendo eles ainda nascido, nem tendo feito bem ou mal, para que o propósito de Deus, segundo a eleição, ficasse firme, não por causa das obras, mas por aquele que chama” (Rm. 9:11; Gn. 25:24-26). O fato é que foi rejeitado antes de praticar as obras más, mas depois as praticou.

O quarto primogênito que foi destituído chamava-se Rubem, filho de Jacó e Léia (Gn. 29:32; Ex.6:14). Raquel, amada de Jacó, era estéril, e como Léia já estava no quarto filho, Raquel, desesperada para ser mãe, entregou a Jacó sua serva, de nome Bila. Esta deu a Jacó dois filhos, Dan, e Naftali (Gn. 29:32; 30:1-8). Rubem seduziu Bila e cometeu incesto (Gn. 35:22) Por esta causa a sua primogenitura passou aos filhos de José. “Quanto aos filhos de Rubem, o primogênito de Israel; porque ele era o primogênito, mas porque profanara a cama de seu pai, deu-se a sua primogenitura aos filhos de José” (1  Cr. 5:1; Gn. 41:51-52).

O quinto primogênito que caiu em desgraça aos olhos de Jeová foi Manassés, filho de José; Efraim, seu irmão mais novo ficou sendo o primogênito, e portador da bênção de Abraão (Gn. 48:14-20).

O sexto primogênito que perdeu a bênção de Jeová foi Gerson, filho de Moisés e Zípora. O próprio nome GERSON quer dizer “banimento”. Podemos dizer que Gerson foi banido da casa de Moisés, mas como Moisés sempre foi bom, manso e justo, o mal estava em Gerson (Nm. 12:3). Lemos no livro de Êxodo que Jeová quis matar Gerson, que ainda era nenê. “E aconteceu no caminho, que Jeová o encontrou, numa estalagem, e o quis matar. Então Zípora tomou uma pedra aguda, e circuncidou o prepúcio de seu filho, e o lançou aos pés de Moisés” (Ex. 4:24-25). O sucessor de Moisés foi Josué, e não Gerson. Josué recebeu o espírito que estava sobre Moisés, e o substituiu no comando do povo para entrar na posse da terra prometida. “Então disse Jeová a Moisés: Toma para ti a Josué, filho de Num, homem em que há o espírito e põe a tua mão sobre ele” (Nm. 27:18).

Vejamos o que sucedeu ao primogênito de Arão, o sumo sacerdote. “Estes são os nomes dos filhos de Arão: O primogênito Nadabe, depois Abiu, Eleazar e Itamar” (Nm. 3:2). “E os filhos de Arão, Nadabe e Abiú, tomaram cada um o seu incensário, e puseram nele fogo, e puseram incenso sobre ele, e trouxeram fogo estranho perante Jeová. Então saiu fogo de diante de Jeová, e os consumiu; e morreram perante Jeová” (Lv. 10:1-2).

Davi era o amado de Jeová. Seu primogênito chamava-se Amnom (1 Cr. 3:1). Davi cometeu adultério com Bat Seba e mandou matar seu marido Urias, o Heteu. Jeová, para castigar Davi, promete trazer maldição à sua casa. E nessa maldição, morreu o primeiro filho de Bat Seba. Amnom, o seu primogênito comete incesto com a irmã, de nome Tamar, irmã de Absalão. Este, para se vingar de Amnom, prepara um banquete, e ali foi assassinado o primogênito de Davi. A linhagem real foi cortada, e a força de Davi se secou (Dt. 21:15-17). E as desgraças e maldições continuaram na casa de Davi.

Que Jeová tinha por objetivo matar e destruir os primogênitos, dá para ver no Egito, por ocasião do Êxodo. A décima praga de Jeová foi a morte de todos os primogênitos do Egito, tanto de homens, como de animais (Ex. 12:29).

Para fechar com chave de ouro, Jeová matou seu próprio primogênito. Ele mandou Moisés dizer a Faraó: “Assim diz Jeová: Israel é meu filho, meu primogênito” (Ex. 4:22). Quando esse filho, que era a força de Jeová, caía, em vez de receber ajuda e instrução, era vendido como escravo às nações idólatras e corruptas. “Tu vendes o teu povo por nada, e não aumenta a tua riqueza com o seu preço” (Sl. 44:12). Esta foi a reclamação do salmista, pela destruição de Israel, que leremos a seguir: “Pelo que Jeová rejeitou a toda a semente de Israel, e os oprimiu, e os deu nas mãos dos despojadores, até que os tirou de diante da sua presença, porque rasgou Israel da casa de Davi” (2 Rs. 17:20-21).

O Deus verdadeiro, o Pai de Jesus Cristo, o Deus que é amor e quer salvar a todos, vendo tanta desgraça sobre todos os primogênitos, para mostrar que é diferente do deus do Velho Testamento, fez a Igreja dos primogênitos, isto é, Jesus, o primogênito dos mortos (Cl. 1:18) nos faz primogênitos com ele pela identificação nos padecimentos, aflições, perseguições, martírio, crucificação. “E os que são de Cristo, crucificaram a carne com as suas paixões e concupiscências” (Gl. 5:24).

        “Mas chegaste ao monte de Sião, e à cidade do Deus vivo, à Jerusalém celestial, e aos muitos milhares de anjos; a universal assembléia e Igreja dos primogênitos, que estão inscritos nos céus, e a Deus, o juiz de todos, e os espíritos dos justos aperfeiçoados; e a Jesus, o mediador de uma nova aliança, e ao sangue da aspersão, que fala melhor do que o de Abel” (Hb. 12:22-24). 

Autoria: Pr. Olavo Silveira Pereira

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